A estação que se inicia pode ser propícia para algumas reflexões que envolvam o homem moderno e seus passos céleres à concretude das cidades e o distanciamento cada vez maior da natureza. A primavera, como estação do renascimento, chama atenção para cenas cada vez menos comuns nos dias de hoje. Sinal dos tempos quando o simples ato de plantar uma árvore se transforma em acontecimento.
Mas o que nos leva ao distanciamento cada vez maior das coisas que deveríamos celebrar naturalmente? Por que o homem urbano aposta no concreto das ruas do que na concretude da preservação das fontes da vida? Nossas escolhas diárias, respondem a essas perguntas. Damos um passo a mais na direção do isolamento todos os dias quando optamos pelo transporte solitário e não o coletivo (aliás, a individualização é marca destes tempos); quando optamos pela sacola plástica; quando cimentamos nossas calçadas e quintais e vamos impermeabilizando o solo em nome da “limpeza” e praticidade; quando deixamos de plantar árvores por que depois de plantar “tem que cuidar”. Interessante é notar que ninguém quer plantar e cuidar mas todos querem aproveitar a sombra.
Minha sensação diante dos problemas mais comuns que enfrentamos hoje, tanto no relacionamento entre pessoas quanto no convívio com a natureza é que o ser humano está perdendo o “jeito”. Não é o “jeitinho” mas a maneira saudável de se relacionar sem competir ou se agredir. A sociedade de consumo que criamos, nos empurra para a competição, para a disputa. Não há tempo para a contemplação. Talvez por isso muitas pessoas precisam de um momento, uma data, um motivo qualquer para observar o florescimento de uma árvore que está no caminho do seu trabalho mas que nunca foi notada. Na era do “Just in time” nós olhamos, mas não vemos.
Creio que em algum momento no nosso processo de urbanização seremos obrigados a parar. E não apenas estacionar mas, retroceder e retomar nossas relações primárias. Com a natureza, com os animais e plantas que dividem conosco esse lar que chamamos de terra e sobretudo com os próprios seres humanos. Não custa sonhar afinal, é Primavera. A Estação do Renascimento. Viva.